A vida não pode ser construída sobre as ruínas deixadas pelas cicatrizes do tempo. Temos que deixar de ter tempo para viver remexendo nas dores que um dia nos rasgaram por dentro. É tempo de olhar para a ferida, que já deixou de doer e mandar calar a maldita memória que não para de gritar, ali mesmo ao nosso lado, não nos permitindo viver o dia lindo, que nos sorri do outro lado da janela. Ninguém merece transformar-se num estendal de memórias, onde não há espaço para mais um vestido novo. Já vivemos. Já sofremos e também já sorrimos. Já estivemos tristes e passamos por momentos felizes. Guardamos o cheiro dos sofrimentos e não estamos a saborear o paladar das alegrias. Ontem tivemos sonhos e hoje os esperam realidades. Há um cheiro intenso a vida à nossa volta e a memória continua a cantar melodias antigas, a declamar velhas poesias que escrevemos nas horas em que não encontramos o sonho que nos estava a fugir das mãos. São essas palavras que o coração solta para ficar mais leve e que depois guarda para nos inquietar a todo o momento. Será que alguém me explica como é que se cala esta companheira ruidosa que me teima em perseguir? É que ninguém merece acordar com este eco do passado a gritar-nos aos ouvidos. Ninguém merece viver de sonhos adiados, quando tem projetos desenhados para o futuro, que já lhe acena do outro lado da janela. O ontem já passou. Eu amadureci. O que me feriu já não dói e tudo isso ficou onde eu não vou voltar. ( Angela caboz )
Nenhum comentário:
Postar um comentário