quarta-feira, 12 de maio de 2021

SINTO FALTA...

Sinto falta dos amigos e vizinhos de infância; Sinto falta do cheiro do café da mãe, que chegava até meu nariz me fazendo levantar feliz; Sinto falta das balas que o pai trazia enrolado num pedaço de jornal dentro do bolso da calça suja de pó de serra; Sinto falta do cachorrinho latindo na porta da cozinha e do canarinho amarelo que cantava e bicava o dedo da gente; Sinto falta da terra solta no quintal imenso onde corríamos descalços pendurados num cabo de vassoura ou girando um pneu velho; Sinto falta da tábua atravessada numa tora onde podíamos voar sem medo de cair e machucar, e quando ralava o joelho tinha o mertiolate pra fazer arder e esquecer a dor; Sinto falta de sentar no pedal da máquina de costura da mãe, e fazer altas viagens dirigindo aquele volante de faz de conta; Sinto falta do delicioso arroz com feijão e um pedacinho de linguiça caseira com tomate colhido na horta atrás da casa; Sinto falta do macarrão caseiro grudado que a vó fazia; Sinto falta das noites de chuva quando não podíamos sair lá fora e assim cantávamos em cima da cama, sem violão nem bateria, éramos a orquestra; Sinto falta de sentar no colo do pai e ouvir historinhas onde ele era o próprio autor, enquanto eu contava os pelos brancos que ele tinha no peito; Sinto falta dos primos pedindo pra ir brincar na rua onde até briga saia; Sinto falta de viver sem correntes e fios presos à tomada; Sinto falta de felicidade de verdade. Néia Saqueti Liberato

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