quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

MINHA INFÂNCIA - REFLEXÃO

Já fui menina. Já andei à chuva. Pisei poças de água, como quem salta sobre um riacho. Subi às árvores. Andei descalça sobre a relva. Senti o cheiro a terra molhada, depois da primeira chuvada. Deliciei-me com o perfume das flores, numa manhã de Primavera. E foram todos esses pequenos momentos mágicos que deram cor aos meus primeiros anos de vida e perfumaram os meus sonhos. Tão feliz que eu era. Não percebia a importância das horas. Não precisava de relógios. O tempo era o que o meu coração queria. Um abraço poderia demorar uma hora e um beijo uma eternidade. O dinheiro era fantasia para adultos. Eu comprava tudo o que a vida podia ter apenas com os meus sonhos. A única moeda de troca que conhecia eram os sorrisos de quem me dava felicidade, a qualquer hora do dia. Emprestava ilusões e cobrava carinho. Era feliz apenas com um vestido de folhos. Gostava de me fantasiar com o casaco da minha mãe, que me chegava aos pés. O mundo dos adultos era mesmo só uma fantasia que eu gostava de usar. Era feliz, sem saber o que era a felicidade. O guarda-chuva era um brinquedo. A chuva, uma diversão. A vida emprestava sorrisos nesse tempo. Só que o tempo não volta atrás. No tempo em que era menina, traduzia sonhos para um idioma que ninguém entendia. Fazia a interpretação das ilusões para explicar aos adultos que viver era a coisa mais simples do mundo. ( Cláudia Maria Pereira )

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