É a
certeza da finitude, na prática, que abala e emudece. Parecia que mais um 13 de
agosto iria passar com os factuais pontuando as horas, a agenda nos levando de
um lado para outro, a determinar o ritmo de uma rotina natural e sem
sobressaltos.
Mas, não. Antes que a manhã findasse e as conversas em torno dos
assuntos mais triviais dominassem as mesas de almoço, uma notícia meio capenga
começou a ganhar corpo.
A
princípio, um helicóptero havia caído em Santos. Logo em seguida, o helicóptero
fora substituído por uma aeronave executiva. E pouco depois, imagens de uma
densa nuvem de fumaça escura em um bairro de Santos, o Boqueirão, chegavam às
redações.
Bombeiros, gente correndo, um deus nos acuda precediam a notícia: o
ex-governador de Pernambuco e candidato a presidente da República, Eduardo
Campos, estava morto.
“Você tem
certeza?” foi a frase mais dita e ouvida durante toda a manhã, enquanto a
tragédia ganhava o país e o mundo em manchetes graúdas. Menos pelo inusitado do
acontecimento e muito mais pela dimensão que a figura política do ex-governador
vinha assumindo nos últimos tempos. Até lá fora, seu trabalho já havia conquistado
reconhecimento. Em 27 de junho de 2013, o governo de Pernambuco recebia, pela
segunda vez, prêmio da ONU, em Nova York, pela gestão do Pacto pela Vida, a
maior aposta de Campos para a área de Segurança.
O fato é
que aquele candidato que na noite anterior respondia com certa tranquilidade e
desenvoltura às perguntas de jornalistas da maior emissora de TV do país não
existia mais. O amigo que abandonou a agenda política para vir dizer adeus ao
mestre Ariano Suassuna, no dia 24 passado, com a voz cortada pela emoção da
despedida, tinha saído de cena. Foi-se depois de deixar no ar uma frase
emblemática, na entrevista da noite anterior: “Não podemos desistir do Brasil”.
À
confirmação da notícia seguiu-se um silêncio cheio de espanto. Porque,
independentemente das conquistas de Eduardo no campo político – e elas foram
muitas – era um jovem cheio de planos para o futuro a deixar a vida, um a menos
na cada vez mais reduzida casta de homens públicos dispostos a encarar desafios
gigantescos em nome de sonhos abertamente acalentados.
E a noite,
marcada pelo incessante noticiário sobre o acidente, não diminuiu a
incredulidade, o choque, a sensação de letargia. Há de ser assim até que todos
os rituais de despedida se consumem e a realidade reassuma seu posto, deixando
ainda mais evidente a certeza de que o próximo minuto pode ser tão improvável
quanto a chance de alcançar um sonho.
O herdeiro político de Miguel Arraes
deixou de realizar o seu maior, mas como poucos teve o privilégio de ver suas
ideias e ações amplamente aprovadas, num sinal claro de sintonia com a
população do seu estado.
Sobre a
era Eduardo Campos, independentemente da questão político-partidária, o que a
História vai dizer é que, sim, Pernambuco foi instado a se colocar diante do
espelho e se viu mais à vontade em um novo figurino de desenvolvimento. Sem
questionar a natureza do modelo ou as vias pelas quais se chegou a ele, o fato
é que, num dado momento, o estado cresceu mais do que o Brasil, embora com
tantas carências ainda a serem reclamadas e repetidamente expostas.
Mas,
esqueçamos o político. Lembremos da juventude de Eduardo, que se expressava
sempre através do sorriso largo, ignorando o minuto da ordem implícita para o
recolhimento dos sonhos.
E apostemos que ela vá servir de exemplo para que
outros ainda mais jovens se aventurem, sinceramente, na tarefa de construir
dias melhores. Porque, no fim das contas, é preciso “coração de estudante” para
sonhar tão grande assim.
Em foco:
por Luce Pereira
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