domingo, 6 de março de 2022

CONSELHO PARA A TRISTEZA

A minha avó dizia-me que quando uma mulher se sentisse triste, o melhor que podia fazer era entrançar o seu cabelo, de modo que a dor ficasse presa nele e não pudesse atingir o resto do corpo. Havia que ter cuidado para que a tristeza não entrasse nos olhos, porque iria fazer com que chorassem, também não era bom deixar entrar a tristeza nos nossos lábios, porque iria forçá-los a dizer coisas que não eram verdadeiras, que também não se metesse nas mãos, porque se pode deixar tostar demais o café ou queimar a massa. Porque a tristeza gosta do sabor amargo. Quando te sintas triste, menina - dizia a minha avó - entrança o cabelo, prende a dor na madeixa e deixa escapar o cabelo solto quando o vento do norte sopre com força. O nosso cabelo é uma rede capaz de apanhar tudo, é forte como as raízes do cipreste e suave como a espuma do atole. Que não te apanhe desprevenida a melancolia, minha neta, ainda que tenhas o coração despedaçado ou os ossos frios com alguma ausência. Não deixes que a tristeza entre em ti com o teu cabelo solto, porque ela irá fluir em cascata através dos canais que a lua traçou no teu corpo. Trança a tua tristeza, dizia. Trança sempre a tua tristeza. E na manhã, ao acordar com o canto do pássaro, ele encontrará a tristeza pálida e desvanecida entre o trançar dos teus cabelos… (Paola Klug)

Nenhum comentário:

Postar um comentário