segunda-feira, 30 de março de 2020

VERBO HAVER


Há em tudo um quase silêncio... na janela, no quarto, no branco dessa sua ausência.

Há um quase silêncio nas manhãs, na boca da noite, do lado de lá da minha rua.

Há um gosto molhado de despedida e a angústia de muitos gritos adormecidos no peito, nos olhos, nas mãos e no teu jeito incerto de ir embora, sem olhar para trás, enquanto eu fico reprimindo o pranto. E, no entanto, há certezas muito maiores do que as dores e as marcas:

Há o jardim plantado desde a sua chegada, suas canções, suas histórias amarelas, azuis, seu arco-íris imenso.

 Há o jato de água que apagou o cigarro. Há muita coisa, “Coração”, muita coisa...
- Promete?
- Prometo...

Há muita vontade de volta e os recadinhos que nascem com essa possibilidade.

 Há o vazio da tarde e os grilos da noite, que fizeram seu brilho primeiro, seu espanto de menino, sua confissão, seus segredos.

Há uma velha rua da infância, lá em Duartina, de paralelepípedos e calçadas quebradas.

Há o passeio que não demos e o que vamos dar. E há os sorrisos, as confidências, o café da manhã, a cerveja da tarde, as estradas e as longas conversas que o telefone emudeceu.

Há um quase cheiro de reencontro, na praça, no parque de diversões, na quinta galáxia, na música do Chico Buarque (“Quero pesar feito cruz nas tuas costas, que te retalha em postas, mas no fundo gostas quando a noite vem...”), nas tranças desse encontro não muito antigo, na cerveja Budweiser. Há o novo e o contente.

Há luas e sóis e tardes e caminhos...

Há uma vida inteira, “Coração”...

Desconheço o autor

Nenhum comentário:

Postar um comentário