quarta-feira, 22 de maio de 2024

TERCELÃ DO TEMPO

Venho costurando minha vida com linhas de saudade. Procuro equilibrar-lhes a cor para que o resultado final não seja triste. Por vezes, é o cinza que insiste; por vezes, impera o marrom. Ainda bem que tem saudade bonita; mudo o tom, amarro fitas, busco a outra ponta do novelo; intercalo a trama em amarelo. A saudade é assim mesmo, tecelã do tempo. Quando menos se espera, arremata o momento, leva embora, deixa a porta encostada, o cadarço de fora, e nunca avisa a hora de voltar. Ainda hei de costurar com verde florescente e, se a saudade chegar autoritariamente, vai se sentir enfraquecida. Enquanto procuro a cor, vou costurando a vida, sem saber qual vai ser o resultado. Caso ele não fique combinado, dou um nó, encosto agulha, guardo a linha, que essa culpa roxa não é minha. É uma artimanha branca do passado! ( Flora Figueiredo )

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