sexta-feira, 20 de agosto de 2021

NOS TRILHOS DO TEMPO

Já é entardecer, o céu está tingido de rubro e o tempo é frio. Tem passarinhos cantando, se despedindo do dia que vai indo... Às vezes sento-me com minhas lembranças e eis que a criança que vive em mim chega de mansinho para fazer-me companhia. Ela me olha e ensaia um sorriso, que por mim é amorosamente correspondido. Então segura minha mão e embarcamos na estação do tempo, num trem muito veloz rumo àquela época distante... Chegamos ao cenário da infância, não mais naquele trem veloz e sim em uma antiga locomotiva a vapor, materializada pelas memórias vividas. Rubem Alves tem razão quando diz: “A alma dos poetas está cheia de objetos decrépitos. E é por isso que fazem poesia, para trazê-los de novo à vida. A poesia opera ressurreições.” A alma voa e abraça a saudade de tudo que viveu e a fez evoluir, lembramos-nos de como aprendemos nessa caminhada. Já superamos tantos medos e vencemos tantos desafios. Quanto orgulho eu tenho dessa criança que caminha ao meu lado. Sei que ela também tem de mim, pois já li em seus olhos. E apenas eu e ela sabemos o quanto crescemos. O tempo pode passar, mas ela sempre volta... E me fortalece. Quero sempre sua presença, pois ela é o recordar de um velho tempo. Somos um, mas ao mesmo tempo somos dois. Individualidades que nunca devem deixar o tempo correr e se perderem de si. Fecho os meus olhos e me despeço, já com saudade. Volto para a estação da vida, onde me encontro agora, e basta um simples pensamento e ela estará de volta para um novo recordar. (Vilmara Capanema)

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