sábado, 28 de outubro de 2017

DESCANSAR É PRECISO


   Percebo que o tempo anda correndo a passos largos, a semana voa com a velocidade de um raio e num piscar de olhos já é domingo. Consolo-me ao saber que essa é a opinião de quase todo mundo, pelo menos não estou vendo os meus dias, meses e anos fluírem rapidamente sozinha, envelheço acompanhada, que alívio!
    Descansar é preciso, dar uma pausa na rotina e fazer um dia diferente, eis um desafio agradável e necessário, ainda mais quando se pode sair de casa, tomar novos ares, olhar paisagens não corriqueiras, sem dúvida, isso traz muita calma à alma. No entanto se o domingo amanhece com aspecto sombrio, com espessas nuvens negras que vem chegando trazendo vento e chuva, então há de se colocar a mente em ação e pensar o que fazer para que o dia seja bom mesmo assim.
     Confesso que após uma determinada idade venho adquirindo novos hábitos nunca antes imaginados, como acordar bem cedo todos os dias da semana, na minha adolescência pensar nisso era uma tortura, achava que dormir era a melhor coisa do mundo. Talvez eu tenha mudado de ideia por pensar que agora, com quase meio século vivido, eu queira aproveitar cada minuto, inclusive do dia de domingo, afinal, de agora em diante, a sensação é que a contagem é regressiva, um absurdo e cruel capricho da realidade.
     Gosto de iniciar o meu domingo indo à igreja, esse horário é o preferido dos fiéis com mais idade, percebo que já me identifico com esse grupo, gosto da tranquilidade, do andar em ritmo moderado, da ausência de ansiedade e do olhar que carrega toda a experiência da vida. Dos fios de cabelos brancos que provam uma vasta caminhada, confesso abrir mão, por enquanto vou tentando disfarçá-los, dou chance à uma das minhas poucas vaidades.
     Após cumprir a minha tarefa espiritual, volto para casa já pensando em caprichar no cardápio do dia, afinal, uma iguaria bem preparada, sem pressa e nem horário rígido para ser servida, somente aumenta o prazer em saboreá-la e quando a sobremesa favorita é colocada à mesa, a família agradece sorrindo.
    Quando o dia quase termina e nenhuma visita aparece, sobram-me alguns momentos, não permito que sejam ociosos e inúteis, lanço-me em alguma leitura, que não escolhe dia, hora ou estado de espírito, diria que é meu vício apaixonante.
     Enfim, o meu domingo é assim, simples, mas sem nunca deixar de lado a minha afeição pelos pequenos detalhes como a gratidão a Deus por mais uma semana vivida, pelo alimento na mesa todos os dias e pela fé que me manteve firme e, certamente, continuará me amparando em todos os momentos difíceis da vida.
 (Esse texto faz parte do projeto "Dois Olhares" de Néia Lambert e Denise Portes O Delírio da Bruxa)


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