Há em tudo um
quase silêncio... na janela, no quarto, no branco dessa sua ausência.
Há um quase
silêncio nas manhãs, na boca da noite, do lado de lá da minha rua.
Há um gosto
molhado de despedida e a angústia de muitos gritos adormecidos no peito, nos
olhos, nas mãos e no teu jeito incerto de ir embora, sem olhar para trás,
enquanto eu fico reprimindo o pranto. E, no entanto, há certezas muito maiores
do que as dores e as marcas:
Há o jardim
plantado desde a sua chegada, suas canções, suas histórias amarelas, azuis, seu
arco-íris imenso.
Há o jato de água que apagou o cigarro. Há
muita coisa, “Coração”, muita coisa...
- Promete?
- Prometo...
Há muita vontade
de volta e os recadinhos que nascem com essa possibilidade.
Há o vazio da tarde e os grilos da noite, que
fizeram seu brilho primeiro, seu espanto de menino, sua confissão, seus
segredos.
Há uma velha rua
da infância, lá em Duartina, de paralelepípedos e calçadas quebradas.
Há o passeio que
não demos e o que vamos dar. E há os sorrisos, as confidências, o café da
manhã, a cerveja da tarde, as estradas e as longas conversas que o telefone
emudeceu.
Há um quase
cheiro de reencontro, na praça, no parque de diversões, na quinta galáxia, na
música do Chico Buarque (“Quero pesar feito cruz nas tuas costas, que te
retalha em postas, mas no fundo gostas quando a noite vem...”), nas tranças
desse encontro não muito antigo, na cerveja Budweiser. Há o novo e o contente.
Há luas e sóis e
tardes e caminhos...
Há uma vida
inteira, “Coração”...
Desconheço o
autor