Agradeço todos os dias ao destino, pela graça de ser educador.
Arte-educador. Inserir-me nesse contexto como profissão me fez mais do que um
profissional: alguém que se reconhece como quem nasceu para isso.
Tenho, evidentemente, minhas angústias relacionadas a proventos,
condições ideais de trabalho e as grandes dificuldades externas que acompanham
nossos alunos até os espaços formais de aulas, oficinas e projetos educativos,
tanto no conceito pedagógico, especificamente, quanto nos conceitos da arte e da
cidadania.
Sou um professor que não dá nota. Que pode mudar, todos os dias,
as estratégias para vender suas ideias e seduzir os alunos. Atraí-los para
contextos mais prazerosos do que a obrigação de alcançar notas e pontos para
passar de ano. Às vezes, adulá-los.
Talvez por isso, eu não tenha nem condições de alcançar a
grandeza dos esforços diários dos professores em disciplinas obrigatórias, que
têm a dura missão de preparar pessoas para o mercado de trabalho.
Não tenho a mínima condição de avaliar precisamente a realidade
total das salas de aula, mas sempre que vejo um professor de pelo menos alguns
anos de profissão, admiro-o profundamente por ter atravessado esses anos,
diante do que vejo.
São muitos e muitos os professores que portam condições plenas
de abraçar profissões muito mais rentáveis, e o fariam competentemente, mas não
fogem do que escolheram, porque seriam somente profissionais. E como nasceram
para ser professores, não seriam felizes se não fossem profissionais e seres
humanos, como tem que ser, mais do que ninguém, quem nasceu para ser professor.
Reitero, portanto, meu profundo respeito e minha admiração aos
que trabalham com amor e sofrimento; com revolta e dedicação; com sorrisos
muitas vezes salobros, porque se misturam ao pranto, mas logo se sobressaem,
porque o amor ao que fazem tem sempre reserva de otimismo.
Ao mesmo tempo, meu desprezo profundo e a não admiração aos
patrões da educação tanto particular quanto pública e aos cidadãos de má
vontade responsáveis pelo sofrimento, a revolta e as lágrimas do professor que
nasceu para ser professor.
Texto de Demétrio Sena - Magé-RJ.