domingo, 2 de junho de 2024

VIVÊNCIA

Já vivi dias ensolarados e noites tempestuosas. Já disse o que não devia, ouvi o que não queria e precisei continuar. Já chorei um mar inteiro por coisas tão miúdas e já me fiz de forte quando o vento era forte demais. Já fui embora muitas vezes (de mim, dos meus anseios e minhas intensidades). Já bati a porta, jurei não olhar para trás, mas fui traída pelo coração . Já arrastei vida afora coisas que me incomodavam, e já me desfiz num segundo do que me Já amei demais, me entreguei demais, acreditei demais e me amei de menos, mas, romântica incorrigível, ainda envio bilhete, escrevo cartas, guardo cheiros e coleciono pequenos detalhes. Já mudei a rota, o rumo, tentando encontrar meu norte, quando descobri que o mundo acontecia aqui, dentro de mim, e eu precisava me entender comigo pra sentir vontade de ficar e querer me cuidar. Já me abandonei muitas vezes, me senti incapaz, me senti infeliz, mas descortinei minha janela e deixei a luz entrar, espanei o pó dos móveis e reinventei meu lugar. E hoje eu estou aqui: imperfeita, sim, incompleta, sim, mas cheia das coisas miúdas que fui guardando estrada afora. Ora sou triste como passarinho na gaiola, ora sou feliz como criança se lambuzando de sonhos. Sou calmaria e tempestade. Serenidade e desassossego. A nostalgia do cais e as manhãs de verão. Eu sou o inteiro de todos os pedaços que perdi. ( Eunice Ramos )

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