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terça-feira, 19 de abril de 2022
OS MISTÉRIOS DO VENTO
Os tristes acham que o vento geme; os alegres e cheios de espírito afirmam que ele canta, diz a sabedoria popular.
E talvez seja isso, mesmo. Apesar do caos, do medo, do cansaço e das tribulações, é preciso tirar um tempo para olhar o que ainda resiste de bom.
Não é fingir que a ventania não está forte e ficar negando as consequências disso, mas também saber apurar os seus ouvidos para a música.
Não é ser feliz o tempo inteiro e rir de tudo, mas deixar em algum momento o coração aberto para observar a beleza que existe no pôr do sol ao final de um dia difícil.
Falar de amor com quem ama, ser presente na vida dos amigos, aproveitar cada segundo e evitar tudo o que deixa essa fase mais desconfortável é uma regra de sobrevivência.
Vai passar.
Eu estou cansado e eu sei que você também deve estar cansado.
E para sorrir, diante disso tudo, também é preciso coragem.
Mas faça isso por você, sempre que puder: tire um tempo para ouvir a música que faz o vento da tempestade.
Edgard Abbehusen
segunda-feira, 18 de abril de 2022
AQUELES QUE MAIS NOS ENSINAM
Tantas vezes aqueles que mais nos ensinam são aqueles que nunca estudaram. Pois o saber da vida não reside na física ou na matemática. O saber da vida reside em sorrisos. Em ABRAÇOS. Em imperfeições perfeitas que nos definem.
Tantas vezes aqueles que mais nos ensinam são os humildes. Os pobres. Os menos privilegiados por uma sociedade que não os reconhece. Não os valoriza. Não os entende na sua diferença. Na sua singularidade singular.
Tantas vezes aqueles que mais nos ensinam são os pequeninos. São as crianças que brincam sem hora para acabar. Sem se importarem com as calças rotas e os joelhos esmurrados. São apenas genuínos e autênticos. E isso basta.
Tantas vezes aqueles que mais nos ensinam são os mais velhos, pois já perceberam o que realmente importa. O que realmente vale uma vida inteira. E, são sábios sem diploma. São mestres sem título. E é AMOR em cada ruga.
Tantas vezes aqueles que mais nos ensinam, são aqueles que aparecem em nossas vidas, sem sabermos como nem por que, mas simplesmente entram nela para nos ensinarem. E nos mostrarem que na vida tudo é incerto.
Que a vida é tantas vezes imperfeita. E, é sempre assustadoramente veloz.
Marisa Sousa
segunda-feira, 11 de abril de 2022
O TEMPO NUNCA VOLTA
O tempo. Ah... O tempo nunca volta. Ele sempre segue o seu fluxo. Sempre passa pela gente levando tudo o que acumulamos no coração. Não existe arrependimento no tempo. Ou é oito ou é oitenta. E ele segue fazendo você lidar com as consequências das suas escolhas. Por isso, o tempo é o seu bem mais precioso. Aproveite-o agora. O único tempo verbal do tempo é o presente. Lembre-se de não desperdiçar ele com relacionamentos ruins, amizades duvidosas e pessoas maldosas. Não entre em discussão onde você só perde tempo. Não fique se desgastando tentando convencer as pessoas do óbvio. O seu tempo é preciso. Precioso. Aproveite ele da melhor forma que puder.
Edgard Abbehusen
domingo, 10 de abril de 2022
sábado, 9 de abril de 2022
O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃÓ
Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.
Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... Casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.
Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:
– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... Tudo sobre a mesa.
Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam... Era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...
Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa... A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.
O tempo passou e me formei em solidão.
Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, internet, e-mail, Whatsapp... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
– Vamos marcar uma saída!... – ninguém quer entrar mais.
Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.
Casas trancadas... Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite...
Que saudade do compadre e da comadre!
Cristina Rodrigues.
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