Há dentro de todos nós essa
necessidade de ter, em algum lugar, nosso jardim secreto, não onde vamos
confinar nossos segredos, mas onde podemos ter um encontro real e exclusivo
conosco.
Umas pessoas sentem mais essa
necessidade que outras, mas estar consigo de vez em quando, interiorizar-se,
colocar ordem nos pensamentos, ou simplesmente abandonar-se, é vital ao
equilíbrio de todos nós.
Em todo relacionamento onde o amor
existe, esse espaço deve ser conservado como o limite de cada um. Os
relacionamentos fusionais que ultrapassam essas barreiras acabam por
destruir-se, pois amar é também respeitar que a outra pessoa tenha seu recanto,
seus pensamentos e, por que não, seus próprios amigos, próprias ideias e
sonhos.
As pessoas não precisam estar juntas
cem por cento do tempo para provarem que se amam. Elas se amam por que se amam
e pronto. Dar ao outro um pouco de espaço, um pouco de ar para respirar, é
dar-lhe também a oportunidade de sentir falta de estar junto. E isso vale tanto
para os amores como para as amizades.
As cobranças intermináveis,
resultados de carências afetivas, acabam por sufocar a outra parte e cria, na
que pede, espera, expectativas, ansiedades que a tornarão infeliz, pois ela
verá como desamor qualquer gesto que não corresponda ao que espera.
Amar é deixar o outro livre para
ficar ou para se retirar. É respeitar seu silêncio e seu desejo de solicitude.
E é deixá-lo livre para ir e voltar quando o coração pedir, quer isso seja numa
cidade ou dentro de uma casa.
Nada impede que um grande e lindo
jardim seja construído juntos e que, de mãos dadas, se passeie por ele, com o
peito cheio de felicidade e a cabeça cheia de sonhos… mas ainda assim, o jardim
secreto de cada um deve ser mantido como lugar único e que vai, no fim das
contas, enriquecer as relações.
Texto de Letícia Thompson.